Um deputado da UNITA foi interrompido e repreendido no hemiciclo após um discurso contundente que criticou o governo e fez uma menção ao líder português André Ventura. A intervenção de Lourenço Domingo, durante a discussão do relatório de execução orçamental, gerou uma série de pontos de ordem e apelos ao decoro parlamentar.
O parlamentar iniciou sua fala atacando o documento governamental, classificando-o como um “exercício de ilusão política” que mascara a realidade vivida pelo povo. Afirmou que o relatório sustenta um modelo de governação que deixou Angola “mais pobre, mais endividada e mais desigual” ao longo de cinquenta anos.
“Enquanto o país mergulhava na pobreza, o executivo mostrava ao mundo uma Angola de fantasia”, declarou Domingo. Ele criticou os gastos com as celebrações do aniversário da independência, financiadas com dinheiro emprestado, e a persistência em culpar os portugueses pela situação do país.
Foi neste momento que o deputado introduziu o nome do político português. “A culpa já não pode continuar a ser atribuída aos portugueses, nem tão pouco ao André Ventura, até porque ele não é contra o povo angolano, mas sim contra o vosso MPLA e seus dirigentes por causa da vossa indigência moral e política”, afirmou.

A referência gerou imediata reação. A deputada Susana de Melo pediu a palavra para um ponto de ordem, apelando ao decoro e ao respeito pelas instituições. “Nós estamos num órgão de soberania e devemos respeitar todos os outros órgãos. O presidente da República é um órgão de soberania e nós temos que respeitar”, disse.
Ela criticou a linguagem utilizada por Domingo, classificando-a como “sem nexo, desordenada, desarticulada e até ofensiva”. O apelo foi reforçado pelo Presidente da Assembleia, que pediu contenção nas palavras sem prejuízo da liberdade de expressão.

Outro parlamentar, Milonga Bernardo, também interveio, citando o regimento interno que exige conduta não lesiva ao decoro parlamentar. “Não podemos permitir fazer da Assembleia Nacional um tapete para discursos sem responsabilidade”, advertiu.
Ao retomar a palavra, Lourenço Domingo manteve o tom crítico, focando-se na gestão económica. Apontou que a arrecadação fiscal corresponde a apenas 17% da receita anual prevista, demonstrando, na sua opinião, a incapacidade do governo em diversificar a economia para além do petróleo.

“Continuamos colados ao petróleo como um dependente colado à sua última esperança”, declarou. O deputado apresentou dados sobre a produção petrolífera, que estaria abaixo das previsões, resultando em menos receitas para o Estado.
A sua intervenção terminou com um forte apelo sobre a situação em Cabinda, denunciando o serviço “desumano” da companhia aérea TAAG. Relatou cidadãos há dias no aeroporto sem condições básicas e acusou a empresa de esquemas de corrupção.
“Por isso, em nome do povo de Cabinda, peço ao presidente da República que exonere urgentemente o PCA da TAAG e o ministro dos Transportes”, concluiu. O episódio revela a tensão crescente no parlamento angolano durante o debate sobre a execução orçamental e a gestão económica do país.