O líder do Chega, André Ventura, defendeu veementemente Cristiano Ronaldo das críticas geradas pelo seu encontro com Donald Trump, utilizando o caso para criticar a cultura do cancelamento e a reação da esquerda. Durante uma entrevista, Ventura argumentou que a reação negativa demonstra uma intolerância perigosa para com opiniões divergentes na sociedade portuguesa.
Ventura afirmou que Ronaldo passou de herói a vilão para alguns setores apenas por se encontrar com uma figura política de quem estes discordam. “Hoje, para aqueles que andavam a dizer bem dele, como teve com alguém que eles não gostam, já é alguém que não pensa por si próprio”, declarou, mostrando-se desiludido com a polarização.
“É um país que se for à uma coisa à esquerda, tá tudo bem, é um gajo porreio. Se de repente diz uma coisa que a esquerda não concorda, tem que ser cancelado”, criticou. O presidente do Chega frisou que a sua admiração pelo futebolista permanece inalterada, independentemente de posições políticas.
O assunto surgiu numa entrevista alargada onde Ventura rapidamente transitou para um tema que considera “inevitável”: as recentes declarações do Presidente angolano, João Lourenço. O político foi incisivo na sua condenação da atitude do Presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa.
Ventura referiu-se diretamente ao discurso do homólogo angolano, que acusou Portugal de ter sido durante 500 anos “esclavagista, opressor e ladrão”. Para o candidato presidencial, perante tais acusações, o chefe de Estado português tinha apenas duas hipóteses: ser “radicalmente politicamente correto ou defender o seu país”.

“Eu escolheria defender o seu país. É levantar, virar costas”, afirmou, sem hesitações. Ventura garantiu que, na mesma situação, não teria saído de Luanda calado, mesmo correndo o risco de uma crise diplomática. “A dignidade do país não tá à venda”, declarou com ênfase.
O líder do Chega responsabilizou as elites angolanas pela situação atual do país, afastando qualquer culpa histórica de Portugal. “Se eles têm a pobreza que têm hoje, é por causa da corrupção que as elites angolanas têm”, afirmou, rejeitando qualquer pedido de indemnizações históricas.
“Era passar pelo meu cadáver para pagarem alguma indemnização”, desafiou. Ventura inverteu a lógica, sugerendo que foram os países africanos que ficaram a dever a Portugal pelas infraestruturas e desenvolvimento deixados. “O que lá construímos… eles vão-nos pagar isso?”, questionou, retoricamente.

A defesa da história nacional foi um ponto central, com Ventura a questionar como se sentiriam ex-combatentes e famílias portuguesas perante tais acusações. Afirmou que a escravatura já existia antes da chegada dos portugueses, desafiando a narrativa apresentada.
Sobre a candidatura presidencial, Ventura foi claro: se eleito, cumprirá o mandato integralmente, sem frustrações por não poder concorrer a legislativas. Descreveu a presidência como “o lugar mais alto que um país pode ter” e prometeu honrar o voto de confiança.
“Se querem uma jarra de enfeitar, não contem comigo”, avisou, prometendo um papel ativo e transformador. Esta posição contrasta, segundo ele, com a de outros candidatos e responde a jovens que lhe disseram preferi-lo como primeiro-ministro.

Ventura explicou a sua candidatura presidencial como uma necessidade estratégica. Argumentou que, mesmo vencendo legislativas, o PS e o PSD se uniriam para bloquear o Chega, citando uma alegada carta do secretário-geral do PS a propor um pacto nesse sentido.
“Esta é a única eleição que, vencendo, ninguém a pode bloquear”, sublinhou, referindo-se à presidencial. A sua visão é clara: para mudar o sistema, o Chega precisa de uma maioria absoluta nas legislativas ou de vencer a eleição presidencial.
A entrevista revelou uma campanha que assenta na defesa intransigente da honra nacional, no combate ao que chama de “cancelamento” da direita, e numa estratégia institucional que vê na Presidência da República uma alavanca única para forçar mudanças políticas.