Rodrigo Guedes de Carvalho deixa alerta contundente: “Portugal pode estar a viver a sua Noite de Cristal”

Jornalista compara ascensão do Chega ao início do Nazismo e critica a apatia da sociedade e dos media

AI Deepfake of Portuguese Politician Used for Misinformation - OECD.AI
Rodrigo Guedes de Carvalho, conhecido jornalista e rosto da SIC, lançou uma crónica poderosa e provocadora no jornal Expresso, intitulada “Noite de Cristal”, em que traça um paralelo inquietante entre o crescimento do Chega em Portugal e a ascensão do Nazismo na Alemanha. A sua análise crítica surge após os resultados das mais recentes eleições, onde o partido liderado por André Ventura evidenciou um crescimento expressivo. O jornalista acusa a sociedade portuguesa de estar a “dormir” perante um fenómeno que, segundo ele, poderá ter consequências históricas graves.

A “Noite de Cristal” referida no título da crónica foi um episódio sombrio da história mundial, ocorrido entre os dias 9 e 10 de novembro de 1938, quando forças paramilitares nazis desencadearam uma onda de violência contra a comunidade judaica na Alemanha, destruindo sinagogas, lojas e casas, e assassinando dezenas de pessoas, tudo sob o olhar passivo das autoridades. Para Rodrigo, a popularidade crescente de forças políticas como o Chega reflete um padrão histórico que já se repetiu noutras épocas, e a inércia atual pode estar a preparar o terreno para uma nova tragédia social.

Rodrigo Guedes de Carvalho e André Ventura

Ao longo da crónica, Guedes de Carvalho critica duramente a desorientação da esquerda parlamentar, comparando-a a “espécies de aves em extinção”, e sublinha que muitos continuam a proclamar vitórias políticas simbólicas enquanto perdem relevância real. “Portugal não ter percebido que andava a dormir” é, para o jornalista, o verdadeiro problema. Também responsabiliza alguns sectores do jornalismo por ajudarem, mesmo que inconscientemente, a dar palco a discursos radicais através da constante exposição mediática, ainda que em tom de sátira.

Rodrigo também refere a existência de uma “moderna maioria silenciosa”, composta por aqueles que reconhecem os sinais da história a repetirem-se, mas que se sentem desorientados e impotentes perante o avanço do extremismo. Segundo ele, o Chega não tomou o poder à força, mas com ironia, e com a cumplicidade passiva de um país que, por vezes, prefere brincar ao invés de refletir. É esse fenómeno, segundo o jornalista, que deve alarmar a sociedade civil.

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A publicação da crónica já está a gerar ondas nas redes sociais e no meio político, sobretudo entre os apoiantes do Chega, que rejeitam a associação ao extremismo e à extrema-direita. Ainda assim, Rodrigo Guedes de Carvalho mantém-se firme no seu alerta: a História repete-se, sobretudo quando os sinais são ignorados. A reflexão é incómoda, mas necessária, num momento em que a democracia enfrenta novos desafios e velhos fantasmas.