O plenário da Assembleia da República transformou-se esta tarde num campo de batalha polÃtica de rara intensidade, com o lÃder do Chega, André Ventura, a protagonizar um confronto direto e devastador contra o socialista Eurico Brilhante Dias. A sessão, destinada ao debate sobre incêndios, rapidamente degenerou num troca de acusações graves de corrupção e traição ao paÃs.
A intervenção de Ventura foi um ataque frontal de mais de dez minutos, onde acusou o Partido Socialista de ter “o rabo preso há décadas”. O deputado do Chega enumerou uma série de alegados casos de corrupção, ligando o PS a financiamentos de Macau, Angola e a figuras como Mário Soares, num discurso interrompido por aplausos da sua bancada.
“Quem se habituou a receber dinheiro de empresas ao longo das últimas décadas foi o Partido Socialista que encheu os bolsos”, afirmou Ventura, apontando o dedo diretamente a Brilhante Dias. O lÃder do Chega desafiou o PS a aceitar uma comissão de inquérito para apurar benefÃcios com incêndios, garantindo que o resultado não apontaria apenas para o seu partido.
A resposta de Eurico Brilhante Dias centrou-se na defesa da memória do fundador do PS, Mário Soares. O socialista afirmou que a honra da sua bancada “há muito que deixou de ser tocada” por Ventura, mas não permitiria que a memória do antigo Presidente da República fosse “enchovalhada”. Brilhante Dias destacou o legado democrático de Soares, afirmando que a democracia portuguesa muito lhe deve.
Ventura, num contra-ataque posterior, foi ainda mais longe nas crÃticas ao histórico socialista. “Eu nunca mandaria os colonos brancos para os tubarões. Eu nunca venderia o nosso território, nunca abandonaria aqueles que lá estavam a lutar”, declarou, numa clara alusão à descolonização. O lÃder do Chega afirmou existir “zero património comum” entre a sua bancada e a figura de Mário Soares.

O debate alastrou, envolvendo também o PSD. Hugo Soares, do partido social-democrata, queixou-se de que a discussão se tinha desviado dos incêndios para um “regabofe” que só valoriza o Chega. Soares reagiu a insinuações de Ventura sobre um deputado do PSD que atropelou uma criança, afirmando que o único condenado no hemiciclo era o próprio André Ventura.
Ventura aceitou o ponto, mas transformou-o numa afirmação de missão. “Sim, fui condenado por dizer que eram bandidos. Terei os processos que for preciso para defender Portugal”, declarou, erguendo a voz. “A diferença é que nós somos o vosso subconsciente. Aquilo que vocês queriam fazer, de dizer ao PS que é um partido de corrupção, mas falta-vos a coragem.”
O clima permaneceu extremamente tenso até ao final da sessão, com vários deputados a solicitarem a palavra para “defesa da honra”. A intervenção do presidente da Assembleia, Augusto Santos Silva, foi necessária para tentar acalmar os ânimos e reconduzir os trabalhos, com sucesso limitado. O episódio revela uma fractura polÃtica profunda e um novo nÃvel de agressividade no debate parlamentar, onde as linhas vermelhas do discurso sobre figuras históricas foram totalmente cruzadas.